Muitos chamam os caiçaras de “O Povo do Mar”, mas não só dos alimentos e recursos vindos do nosso generoso Atlântico eles vivem, como também não vivem apenas da mandioca e de seus subprodutos como talvez muitas publicações superficiais querem nos fazer acreditar. Ter atingido o estado de arte na utilização da mandioca não significa depender unicamente dela. Aliás a mandioca merece um capítulo especial que desenvolverei em outro momento por aqui.
As comunidades tradicionais caiçaras e as cidades com forte cultura caiçara, verdadeiros patrimônios culturais brasileiros, estão localizados em um ambiente privilegiado, o Bioma Atlântico, composto de importantes ecossistemas brasileiros, aquáticos e terrestres, riquíssimos em biodiversidade que garantem aos caiçaras uma variedade imensa de possibilidades para o desenvolvimento de uma culinária simples saborosíssima e com alma, entre outros aspectos culturais e sociais fascinantes.
O caiçara tradicional associa as expressões de seu modo de vida
diretamente à utilização deste território e de seus consideráveis recursos naturais, tanto em sua alimentação, como condição para seu desenvolvimento social, cultural e
econômico. O saber culinário caiçara nasce
da força de sua capacidade de adaptação a este meio ambiente magnífico e abundante que o rodeia.
Nestes rios e riachos podemos
encontrar uma infinidade de espécies de peixes e camarões deliciosos entre eles os pitus, para o qual estamos dando destaque hoje. Podemos encontrar também mariscos e caranguejos originalmente vindos do mar que a milhares de anos se adaptaram a água doce
ou salobra. Estas espécies contribuem para o vigor e a alegria das cozinhas
caiçaras.
Os pitus são camarões nativos
brasileiros que vivem e se reproduzem em água salobra ou doce. São conhecidas
cerca de 12 espécies de camarões de água doce nas regiões caiçaras entre o
litoral sul do Estado do Rio de Janeiro e o Paraná, muitos deles chamados de
pitus. Popularmente qualquer camarão de água doce, com garras longas, grande e
agressivo é chamado de pitu.
Despesca de Viveiro de Pitus no Rio Ribeira de Iguape (15 jun 2012) |
Macrobrachium acanthurus - O Pitu |
Macrobrachium carcinus - O Pitu Açu |
Macrobrachium olfersii e Macrobrachium potiuna - O Pituzinho |
Macrobrachium heterochirus Macho e Palaemon pandaliformis |
Fonte: Crustáceos decápodes de água doce com ocorrência no Vale do Ribeira de Iguape e rios costeiros adjacentes, São Paulo, Brasil - Sérgio Schwarz da Rocha; Sérgio Luiz de Siqueira Bueno
Com uma textura e um sabor considerados por muitos superior às espécies marinhas, o impressionante pitu foi até citado por Pero Vaz de Caminha na “Carta a el-rei D. Manuel sobre o achamento do Brasil” em 1° de maio de 1500: “...Enquanto aí estávamos, foram alguns (índios) buscar marisco e apenas acharam alguns camarões grossos e curtos, entre os quais vinha um tão grande e tão grosso, como em nenhum tempo vi tamanho.”
De lá para cá, infelizmente a
destruição de seus ambientes nativos e a pesca excessiva e descontrolada
fizeram o
Macrobrachium carcinus, o pitu-açú ou lagosta do Ribeira, ser considerada uma espécie ameaçada, listada como vulnerável
pelo IBAMA em 12 estados brasileiros. Hoje sua captura, venda e manutenção em cativeiro são
proibidas por lei.
Pesquei muito pitu com puçá no Rio Ribeira de Iguape. Era só passar o puçá ou uma redinha com cuidado por baixo dos aguapés e pronto! Os maiores a gente conseguia pegar com um covo pequeno tendo como isca banana, espinhas e cabeças de peixe e cacos de cerâmica.
Com o pitu podemos fazer uma série de suculentos pratos tradicionais que começarei postar aqui no blog, iniciando pelo delicioso Pitu no Bafo, cuja receita segue adiante. Resgate ingredientes nativos esquecidos, estimule o comércio justo que beneficie as comunidades locais, garanta que o que você está comendo venha de fontes sustentáveis e divirta-se!
Pesquei muito pitu com puçá no Rio Ribeira de Iguape. Era só passar o puçá ou uma redinha com cuidado por baixo dos aguapés e pronto! Os maiores a gente conseguia pegar com um covo pequeno tendo como isca banana, espinhas e cabeças de peixe e cacos de cerâmica.
Com o pitu podemos fazer uma série de suculentos pratos tradicionais que começarei postar aqui no blog, iniciando pelo delicioso Pitu no Bafo, cuja receita segue adiante. Resgate ingredientes nativos esquecidos, estimule o comércio justo que beneficie as comunidades locais, garanta que o que você está comendo venha de fontes sustentáveis e divirta-se!
RECEITA
Fácil | 4 porções | 20 minutos
INGREDIENTES
1kg de camarões pitu inteiros (com casca e cabeça);
½ dose de cachaça boa;
1 tomate;
2 dentes de alho;
1 cebola;
1 punhado de coentro de folha larga e alfavaca, em partes
iguais;
1 pimenta dedo de moça, sem sementes, bem picada.
Dica: Quer deixar o negócio chique? Acrescente algumas fatias bem
finas de gengibre e um pouco de capim santo (a parte clara) bem picada.
Você vai Precisar
Uma panela funda com tampa
PREPARO
Lave bem os pitus, tempere com sal e reserve;
Pique bem o tomate, a cebola, o alho, os temperos verdes e a pimenta dedo de
moça;
Forre o fundo de uma panela funda com todos os temperos,
acrescente a cachaça e acomode por cima os pitus;
Tampe a panela e cozinhe em fogo médio por aproximadamente
10 minutos. Com cuidado, mexa os temperos e vire os pitus de vez em quando para que cozinhem
por inteiro e absorvam os sabores do molho;
Quando os pitus estiverem bem vermelhos estarão prontos;
Sirva com um arroz branco fresquinho e uma salada bacana.
Delicie-se!
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