quinta-feira, 8 de março de 2012

O Inusitado Siri Mole

Crédito da Foto: See Read Cook
O caiçara tradicional sempre utilizou em sua alimentação todos os recursos que estão a sua disposição na natureza ao seu redor. Fruto da capacidade de adaptação humana, da necessidade de sobrevivência e a observação apurada da natureza.

Em um relacionamento constante e cumulativo com a natureza os caiçaras desenvolveram um acervo de técnicas, hábitos e costumes que permitiu, ao longo dos séculos, entender os segredos, ritmos e detalhes do espaço exuberante entre mata atlântica e o mar onde habitam.

Um dos bons exemplos desta capacidade do caiçara em se adaptar, observar a natureza e usar seus recursos é o fato dele ter acrescentado a sua dieta o inusitado siri mole.

O "Tar" do Siri Mole

Como todo crustáceo, o siri é coberto por uma carapaça rígida (o exoesqueleto) que precisa ser trocada de tempos em tempos para que ele possa crescer. Este processo é conhecido como muda (ecdise) que dura entre 10 e 20 dias e ocorre geralmente entre o outono e a primavera.

A muda começa com o siri aumentando bastante sua alimentação para acumular reservas para passar por este processo. Depois o siri começa a absorver água e inchar aumentando o volume do seu corpo até romper sua carapaça. Ao sair de sua antiga carapaça ele a come reaproveitando seus nutrientes para a formação da nova carapaça.

Enquanto a nova carapaça não endurece o siri fica com o corpo coberto apenas com uma película que é à base de sua nova carapaça, um tipo de pele, frágil e macia. Daí o nome siri mole.

Recebi um e-mail do André Theiss, diretor da empresa Blueshell Brasil que desde 2010 produz o Siri Mole em cativeiro em Santa Catarina, que colaborando com o Cozinha Tradicional Caiçara, me informou que o endurecimento da nova carapaça do siri tem início imediatamente após a troca da casca e que o melhor siri mole é aquele colhido em 2 ou 3 horas após o início deste processo.

Pergunte sobre o siri mole naquela peixaria de sua confiança, onde talvez você precise encomendá-los. Outra forma de encontrar o Siri Mole é buscando criadores do siri em cativeiro:

  • Entre em contato com a Blueshell Brasil de Santa Catarina e fale com o amigo André Theiss através do e-mail: blueshell@terra.com.br  ou pelo telefone (47) 3035-1077. Visite também a Blueshell no Facebook.
  • Na Ilha Comprida/SP existe uma Unidade Experimental de Processamento de Siri Mole no Balneário Viaréggio. Não sei se já está produzindo em escala comercial, mas vale a pena conferir.

Seguem duas receitas de Siri Mole... Delicie-se!


RECEITAS


1. SIRI MOLE À DORÊ

Facilzinha | 30 minutos | 6 porções

INGREDIENTES

1 dúzia de siris moles
1 dente de alho amassado
1 limão galego
Tempero verde a gosto: cebolinha, salsinha, coentro de folha larga e alfavaca
Sal a gosto
Farinha de trigo e fubá para empanar
Óleo para fritar

Você Vai Precisar
Uma vasilha para temperar
Uma vasilha para empanar
Uma frigideira funda
Um pegador ou escumadeira
Um escorredor coberto com papel absorvente

PREPARO

Lave os siris e tempere-os com limão, alho, sal e a maior parte dos temperos verdes, guardando um pouco para polvilhar nos siris depois de prontos. Deixe-os descansar por uns 10 minutos nesse tempero.

Faça uma mistura ½ a ½ de farinha de trigo e fubá. Passe os siris um a um nessa mistura farinha de trigo e reserve.

Dica 1: Antes de empanar os siris passe-os por aquele caldinho do fundo da vasilha em que você os deixou no tempero para que eles fiquem bem úmidos e segurem bem a mistura de farinhas.

Dica 2: Você pode passar os siris em um ovo batido e depois na mistura de farinha de trigo e fubá para conseguir uma casquinha mais crocante e resistente.

Em uma frigideira com bastante óleo quente frite até dourar os dois lados. Preste atenção para não deixar queimar e coloque-os em um escorredor com papel absorvente.

Servir quente com arroz branco e uma salada verde bacana.



2. MOQUECA DE SIRI MOLE

Fácil Demais | 30 minutos | 8 Porções

INGREDIENTES

12 siris, moles e graúdos
2 cebolas, grandes picadinhas
4 tomates, grandes, maduros e firmes picadinhos
1 molho grande de alfavaca picadinha
Suco de 2 limões galegos grandes
Azeite de oliva o quanto baste
Sal e aquela sua pimentinha a gosto

Invente Aí – Você pode acrescentar um tanto de camarões para incrementar a moqueca lembrando que o ator principal é o siri mole.

Você Vai Precisar
Uma escovinha para limpar
Uma panela para aferventar
Uma vasilha para temperar
Uma panela de barro (aquelas do Jairê)



Sobre as Panelas de Barro do Jairê

Localizado a aproximadamente 27 km do centro da cidade de Iguape/SP, o Bairro do Jairê concentra a técnica da confecção de panelas pretas, originárias da cultura indígena.

As panelas, bem como gamelas e potes, são feitas a base de argila pelas mãos habilidosas de artesãs como as da mestra Benedita Dias. Durante a queima são tingidas com casca de Nhacatirão ou Jacatirão, uma árvore nativa de Mata Atlântica e ganham a cor preta característica.

PREPARO

Ferva os siris até que fiquem bem vermelhos. Tempere-os com sal e metade do suco de limão, e reserve.

Unte uma panela, de preferência de barro, com um pouco de azeite de oliva. No fundo da panela arrume as cebolas, os tomates e a alfavaca picadinha.

Coloque os siris na panela. Regue com a outra metade do suco de limão temperado com uma colher de chá cheia de sal e dê uma fervura em fogo forte.

Abaixe o fogo e cozinhe por 30 minutos. Dê uma perfumada com aquela sua pimentinha e sirva com arroz branco e uma boa farinha artesanal.

Divirta-se!

12 comentários:

  1. Fabio Pimentel (Via Facebook) - Próxima expedição a Juréia vc cozinha, nada de comida de Preá.

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  2. Patricia Buzzo (Via Facebook) - Tudo bem! e espero que continue a desenvolver receitas maravilhosas.....acredita que nunca tinha ouvido falar de siri mole...nem parece que morou na praia, né? kkkkkkk

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  3. Grande Dadau cozinheiro que eu só conheço na teoria , nem vou comentar sua "dívida" de fazer um jantar p/ nossas famílias p/ não ficar chato kkkkk, abçs em todos tudo de bom

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    1. kkkkkkkkkkkkkkkk Renatão dívida é dívida... também não esqueci da Paella prometida... vamos combinar e resolver esta maravilhosa pendência de uma vez... você traz o vinho?

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  4. Próxima expedição a Juréia,vc cozinha,nada de comida de preá.

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    1. Lobão até hoje não gosto tanto de amêndoas, uva passas, castanha do pará, etc... Mas aquele rango que eu fazia a noite era bom... Tô loco prá ir por lá mais uma vez... Simbora?

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  5. Olá nesse último domingo dia 22/07/2012 fui até o bairro do Jairê (aventura aquela estrada hein!) ver as tais panelas de barro, infelizmente os moradores disseram que não tinha mais ninguém que fazia panelas. Vc tem o contato da Dona Benedita? Obrigada

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    1. Olá Patrícia,
      Que pena. As panelas ainda são feitas no Jairê e no Baicô. A produção está reduzida, mas algumas alunas da Dona Benedita ainda estão fazendo as panelas com esmero. Você poderá encontrar as panelas de barro aqui:
      Grupo: Iguart
      Iguape - Vale do Ribeira - SP
      Contato: Maria Euzamar / Cecília
      Fone: (13) 3841-4659 / 3841-5214
      Abração

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    2. Faltou informar que Dona Benedita aprendeu a técnica de confecção das panelas pretas, ainda adolescente, com 17 anos, com sua sogra Tereza Ricardo da Silva. A tradição de confeccionar as panelas pretas na família de dona Tereza, atravessou quatro gerações e veio de sua avó. Dona Benedita morou no bairro do Jairê em Iguape até 2007, assim como ela, mais oito senhoras foram treinadas por dona Tereza e produziam as panelas, porém, hoje todas estão falecidas. Alguns descendentes dessas senhoras aprenderam as técnicas, mas não tiveram interesse em continuar a tradição.

      Com o falecimento do marido, falta de apoio e às dificuldades para vender as peças, dona Benedita acabou mudando-se para a cidade de Juquiá há cinco anos. Neste meio tempo só voltou quatro vezes a Iguape para ensinar pequenos grupos de artesãs com o apoio do SEBRAE da Prefeitura. O endereço que passei é deste grupo.

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