Antes
de começar a dar água na boca e incentivar os leitores visitantes do CTC
(Cozinha Tradicional Caiçara) a ir ao fogão com os ingredientes e as dicas de
“fazimento” dos pratos da simples, fantástica e deliciosa Cozinha Caiçara,
vamos falar um pouco do Caiçara, povo que vive entre a serra e o mar, e que
dali tira de tudo para desenvolver uma culinária autentica e, é claro,
saborosíssima!!!!
A Origem do Termo
Caiçara
O
termo caiçara vem do Tupi-guarani e
é formado pela junção de duas palavras – caá=mato e içara=armadilha.
Originalmente caá içara era como os Tupis-guaranis chamavam a
cerca de proteção colocada em volta da aldeia, a cerca de pau-a-pique colocada
ao redor das plantações para evitar a entrada de animais, ou ainda os galhos
fincados na beira da água com os quais iam construindo seus cercos de pesca.
Cerco de Pesca |
Mais
tarde passou a ser o nome dado ao rancho que abrigava as canoas e os apetrechos
de pesca na beira do rio ou na praia. Somente depois passou a identificar, de forma
generalizada, os moradores do litoral sul do estado do Rio de Janeiro, os do
litoral do estado de São Paulo e os do litoral norte do estado do Paraná.
As Comunidades
Caiçaras
O
surgimento e desenvolvimento das comunidades caiçaras acompanharam historicamente
a ocupação do litoral brasileiro, desde a época do descobrimento e dos ciclos
econômicos vividos pelas regiões sul e sudeste.
Alguns
povoados caiçaras como, por exemplo, a Vila do Icapara, a Barra da Ribeira, o
Prelado, Pedrinhas e o Momuna em Iguape, são tão antigos quanto as primeiras
vilas e cidades brasileiras.
Durante um longo período estas
comunidades litorâneas viveram relativamente isoladas dos
centros urbanos e de outras comunidades, podendo assim desenvolver seus modos de
vida e culturas locais específicas, muito originais e até endêmicas (cuja
existência e características restringem-se a uma única área geográfica
ou, ainda, a um único ecossistema).
Moldadas
principalmente pelo patrimônio milenar de adaptação à floresta tropical dos
Tupis-guaranis, as comunidades caiçaras desenvolveram uma
cultura particular que as diferencia das comunidades tradicionais de outros
estados ou regiões do interior.
A economia caiçara se encontrou durante muito tempo em um
ponto entre a economia de sobrevivência e troca indígena, e a economia
industrial. Se por um lado tinham a produção destinada ao consumo familiar, por
outro lado, também contribuíam para a economia mais ampla e regional, comercializando a produção excedente para adquirir produtos e serviços que
necessitavam, mas não produziam, como por exemplo, ferramentas, material de
construção, sal, roupas, etc.
As comunidades caiçaras ocupam uma variedade de habitats e
ecossistemas, por exemplo, no litoral norte do estado de São Paulo encontramos
costões rochosos e pequenas praias onde a Serra do Mar se aproxima mais do
litoral, formação bem diferente da encontrada no litoral sul com suas vastas planícies
formadas pelo Rio Ribeira de Iguape e um litoral onde predominam o
sistema lagunar, os mangues e as restingas.
Entretanto estas comunidades caiçaras compartilham elementos sociais e culturais de bases históricas e influências indígenas, negras, portuguesas, espanholas como o comportamento cultural, aspectos de linguagem e é claro a culinária.
Cerca de 89 comunidades caiçaras, formadas por 2.456 famílias, vivem ao longo dos 140km de extensão do Complexo Estuarino Lagunar de Iguape-Cananéia-Paranaguá. Seu modo de vida caracteriza-se principalmente pela relação de interação com a natureza, seus ciclos e recursos renováveis. A atividade pesqueira de subsistência, sua principal atividade econômica, é realizada de forma artesanal e com baixo impacto ambiental. Tl como a economia, as atividades culturais e sociais são pautadas na organização em torno da unidade familiar, domiciliar ou comunal.
No município de Cananéia cerca de 30 comunidades caiçaras se dedicam prioritariamente a produção camaroeira por meio da pesca em canal (mar de dentro) e em mar aberto. Já em Iguape é realizada a pesca de canal voltada a produção pesqueira da manjuba e de crustáceos, onde cerca de 20 comunidades caiçaras praticam esta atividade. As sete comunidades que vivem na ilha comprida realizam a pesca de praia em determinadas épocas do ano, a extração de ostras e a criação do siri mole, enquanto a população caiçara de Guaraqueçaba, estimada em 8.400 pessoas, trabalha principalmente na pesca de canal e com a produção de tainha e caranguejo.
Os Caiçaras
Vivendo
entre a serra e o mar, o caiçara combinava e, ainda combina com habilidade, suas
atividades sociais (cantorias, festas, comemorações, etc.), de lazer (nadar, cantar,
dançar, mergulhar, caminhar, etc.) e de sobrevivência (caçar, pescar, plantar, artes,
etc.) com a natureza que o cerca.
Enquanto
caminhava podia encontrar um “pau bom” para fazer sua canoa, enquanto pescava,
desfrutava e contemplava o mar, conhecendo-o melhor, enquanto plantava e colhia
descobria e redescobria os ciclos da natureza e se ajustava a eles.
Vivendo
desta forma os caiçaras conseguiram desenvolver uma interessantíssima rede de
conhecimentos, com base em uma intensa interação e na relação de complementaridade com
os vários ecossistemas atlânticos. Os caiçaras, assim como nossos índios e outras populações
tradicionais, talvez sejam nossos primeiros e excelentes exemplos de uso sustentável do
meio ambiente.
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